Ao Denoy de Oliveira.
Escrito dia 23/06 por Caio Plessmann, Secretário da APACI
Aproveitando a mensagem-manifesto do nosso importante associado-fundador, João Batista de Andrade, e atendendo ao pedido do meu amigo Rubens Rewald, atual vice presidente, para informar sobre nossa próxima Assembleia, comunico a todxs que hoje, neste exato momento, há 50 anos nossa associação era fundada. Como dizia José Mojica Marins, nada é por acaso (ainda que a ideia possa ser filosoficamente contestada rs).
Conforme a lenta e rigorosa pesquisa que venho realizando há 3,5 anos — a partir de uma sugestão do Alain Fresnot ainda na Diretoria Social da gestão anterior à atual, do Daniel Santiago (da qual fui secretário, assim como nesta atual, onde exerço o mesmo posto) —, na noite de fundação, no Teatro São Pedro, viabilizado pelo Maurício Segall, fundador do Museu Lasar Segall (onde, vale lembrar, faremos nossa próxima assembleia no dia 30 de junho, e cujo acervo, comprado pelo Paulo Emílio, constituiu o núcleo central da biblioteca da Cinemateca Brasileira), ha 50 anos ocorreu uma reunião com mais de 350 pessoas, como registrado em ata (documento acima, a mim fornecido pelo Guilherme de Almeida Prado).
Estavam presentes cineastas, produtores, escritores, dramaturgos e técnicos cinematográficos que defendiam pontos objetivos para a expansão do cinema brasileiro: abrir um caminho novo, que era na época uma expressão da regionalização da política oficial da Embrafilme (desconcentração do Rio de Janeiro e investimentos em São Paulo), com vistas à criação de um polo de cinema em SP. Sinto que hoje vivemos uma espécie de urgência de refundação, nesses termos.
O que o João e outrxs amiúde aqui tem colocado, é preciso: é necessária a ampliação do mercado exibidor — não apenas comercial —, claro, desde a defesa permanente, crescente e intransigente da cota de tela, sem a qual jamais iremos avançar, em conjunto com alternativas como os cineclubes, movimento do qual faço parte de maneira orgânica.
Naquela noite, diversos realizadores, alguns dos quais presentes nessa lista, e que entrevistei, criaram a APACI, e construíram um movimento vitorioso e efetivo para os rumos do cinema nacional.
A defesa da região, hoje expressa na Ampla Concorrência (que coloco em maiúsculo por ser uma fator conceitual), em conjunto com as políticas afirmativas pra mulheres, negros, indígenas, LGBTQIA+, PCDs e 65+, é decisiva.
Além disso, o governo precisa atentar para a grande concentração de recursos que estamos vivendo, com meia dúzia de grandes produtoras e distribuidoras recebendo praticamente todo fomento do poder público, em nosso estado. Se não corrigirmos isso, o mesmo cenário tende a se reproduzir nas demais regiões, como já vem ocorrendo. Dados alarmantes foram apresentados pela Daniela Broitman, a partir do GT do FSA, que encaminhou duas cartas com diversas questões à Ancine/FSA/Minc/Comitê Gestor, por meio desta gestão, há cerca de seis meses, e ainda sem resposta.
Espero que tenhamos uma composição que renove as esperanças em um trabalho coeso e efetivo, onde o inimigo seja plenamente identificado e nomeado: a presença estrangeira no país em mais de 85% das telas grandes — e ainda mais forte no streaming.
Fica dado o meu recado. Comemoremos, com o brio que nos resta frente a essa luta hercúlea, o nosso aniversário de 50 anos.
Parabéns a todxs. Vamos em frente.